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AVENTURAS DE HANS STADEN
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VI

O NAUFRAGIO



NO outro dia, á tarde, sob a copa da jaboticabeira carregada de jaboticabas "pintando", dona Benta retomou o fio da narrativa:

— Os marinheiros jantaram fidalgamente aves e ovos, preparados de todo o jeito. Mas a vida do mar não dá repouso. O ceu enegreceu ao sul e o vento ganhou corpo. O ponto onde a nau fundeara não oferecia abrigo; qualquer vento teria força para arremessá-la de encontro ás pedras.

Para prevenir essa hipotese, o capitão tratou de alcançar naquele dia mesmo o porto de Cananéia [1].

Era tarde. A escuridão que envolvia a terra impediu-o de atinar com a entrada desse porto, e como ficar bordejando rente á costa fosse perigoso, o navio fez-se ao largo.

— Então vóvó, em mar alto não ha perigo? perguntou o menino.

— Em mar alto não existem recifes á flor dagua, de modo que o navio se deixa livremente arrastar pelos ventos e pelas correntes marinhas. O grande inimigo dos barcos é a pedra, sobretudo a pedra invisivel, que não emerge á flor dagua.

  1. Derivao de canindé, araza.