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AVENTURAS DE HANS STADEN
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Tomé de Souza foi examinar o forte, louvou o intrepido artilheiro e prometeu recomendá-lo ao rei quando regressasse ao reino. E como estivesse a terminar o prazo dos quatro meses, Tomé de Souza propôs-lhe novo contrato por mais dois anos, findos os quais o reenviaria a Portugal pelo primeiro navio.

Hans aceitou e continuou no forte, já agora melhorado e aumentado de mais alguns canhões.

A vigilancia ali não cochilava, mas era maior em duas épocas do ano. Uma em novembro, quando amadurecia lo abatí, com o qual os selvagens preparavam o cauim.

— Abatí? exclamou Pedrinho. Pensei que o cauim fosse feito de milho.

— Abatí, respondeu dona Benta, era o nome dado pelos selvagens ao milho. De modo que você não pensou errado, meu filho.

— E cauim, que é, vóvó ? perguntou a menina.

— Era a bebida fermentada dos nossos indios. Cada povo possue a sua bebida nacional e os nossos indigenas não podiam fazer exceção á regra. Preparavam o cauim de um modo interessante: as mulheres mascavam o milho, lançando-o com a saliva em grandes vasilhas, onde ficava a fermentar.

— Modo interessante, diz vóvó? exclamou a menina com ar de nojo. Que porcaria !

— Para nós, explicou dona Benta; para nós, que temos outra cultura e modos de ver diferentes. Se você fosse uma indiazinha daqueles tempos havia de achar a coisa mais natural do mundo, e não deixaria de comparecer a todas as mascações de abati.