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MONTEIRO LOBATO

ra. Havia de levá-lo vivo á taba para que as mulheres o vissem e se divertissem com ele; depois o matariam e — "Kauiuim pipeg!" isto é, muito cauim havia de correr. Prometeu preparar bastante cauim, devendo todos os presentes lá se reunirem para o devorar em sociedade.

Assim combinados, amarraram-lhe ao pescoço quatro cordas, cujas pontas ataram á canoa, e partiram.

— Quer dizer que se não fosse a curiosidade das mulheres o pobre alemão morreria ali mesmo! observou Pedrinho.

— E' verdade. O seu tipo louro, tão diferente do tipo dos portugueses e tão raro naquela terra, fez que o cacique tivesse aquela boa lembrança. Se fosse moreno, estaria perdido...

Ao pé da ilha onde o aprisionaram havia uma ilhota, na qual se aninhavam umas aves aquaticas de penas vermelhas, chamadas guarás. Essas aves nascem pardacentas e vão avermelhando á medida que crescem. Os selvagens tinham em muito apreço as penas do guará, que lhes serviam de enfeites. Aqueles indios haviam vindo justamente com o fim de apanhar guarás. O destino quis que em vez dessa caça de penas vermelhas encontrassem um bipede de cabelos louros, manjar muito mais raro e precioso. Todavia, não desistindo de levar alguns guarás meteram-se pela ilhota atrás deles.

Nisto surgiu na praia um grupo de tupiniquins, com varios portugueses á frente. E' que o escravo carijó, que conseguira fugir quando os indios agarraram o artilheiro, correra ao forte e dera alarme. Vinham agora todos de lá, a ver se livravam o seu chefe.