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AVENTURAS DE HANS STADEN
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Em transes identicos os prisioneiros indigenas mostravam grande arrogancia. e profundo desprezo pela vida; arrostavam os seus matadores de cabeça alta, ameaçando-os com a vingança dos amigos e parentes. Os brancos, porém, em geral acovardavam-se, choravam e imploravam misericordia.

Os tupinambás acenderam fogueiras e deitaram o prisioneiro numa rede armada entre duas arvores, atando aos galhos as pontas das cordas que o manietavam. Depois acomodaram-se em redor exclamando com ironia:

— "Che remimbaba indė" — E's meu animal domestico.

Ao raiar do dia partiram de novo e remaram até tarde; apesar disso, quando o sol descambou inda faltavam duas milhas para chegarem ao ultimo pouso.

Nesse entremeio formou-se no ceu, atrás deles, negra nuvem ameaçadora, o que os fez remarem com furia afim de atingirem a terra antes da tempestade. Vendo que não podiam escapar da chuva, disseram a Hans:

— "Pede a teu Deus para que a tempestade não venha".

Hans reconcentrou-se e pediu a Deus nestes termos: "O' tu, Deus onipotente, que auxilias os que te imploram, mostra tua força a estes pagãos, por forma que eu saiba que estás comigo e eles vejam que me ouviste".

Hans ia deitado no fundo da canoa, de modo que não podia ver o ceu, nem saber se sua prece fôra atendida. Mas ouviu um indio dizer "Oquara-mõ amanaçú", que significa: "A tempestade já passou". Fez então um es-