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MONTEIRO LOBATO

Os dois irmãos deram o recado e concluiram:

— “As mulheres, agora, vão levar-te para o terreiro “poracê”.

O prisioneiro não compreendeu o sentido desta palavra, que queria dizer dansar, e preparou-se para a morte.

As mulheres pegaram das cordas e puxaram-no para fóra. Não sabendo o que queriam dele, Hans procurou consolar-se, recordando os sofrimentos de Jesus Cristo maltratado pelos judeus.

Foi levado para defronte da cabana do morubixaba Guaratinga-assú (grande passaro branco). Ali havia um monte de terra fresca, no qual o assentaram, sempre seguro pelas cordas.

Hans julgou chegado o terrivel momento em que aparece a iverapema.

— Que era, vóvó ? perguntou Narizinho.

— Era um tacape proprio para o sacrificio dos prisioneiros. Usavam-no todo enfeitado de penas e manejavam-no de modo que ao primeiro golpe a vitima vinha ao chão, de cranio esmigalhado.

Hans, que conhecia o costume dos indios, correu os olhos em torno, a ver se já traziam a iverapema; como nenhum selvagem aparecesse com ela, sentiu um luar de esperança.

Nisto, uma india surgiu com uma lasca de cristal na mão, com a qual se pôs a cortar-lhe as sobrancelhas. Depois quis fazer-lhe o mesmo á barba. Hans achou que era demais e pediu que o matassem com barba e tudo. As mulheres então lhe disseram que não iam matá-lo ainda.