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MONTEIRO LOBATO

X

OS MARACÁS


DALI as indias conduziram Hans para defronte da cabana onde se guardavam os maracás, isto é, os idolos ou deuses selvagens. Eram cabaças cheias de pedrinhas, atravessadas por um cabo e com uma grande boca pintada, ou recortada. Cada selvagem possuia o seu maracá, e o acomodava numa cabana especial, onde lhe levava de comer e o consultava sobre tudo.

— Mas o maracá respondia ás consultas ?

— Respondia, sim, meu filho, como todos os idolos em todas as religiões respondem ás perguntas de todos os fieis... Quem cala consente; os maracás se calavam, logo, respondiam “sim” a todas as consultas dos indios.

Depois as mulheres formaram um circulo em redor de Hans, amarraram-lhe ás pernas uns chocalhos e puseram-lhe á cabeça um turbante de penas chamado “araçoiá”. Em seguida começaram a dansar, obrigando-o a bater no chão com o pé, para que o ruido dos chocalhos fosse marcando o compasso.

O ferimento da perna de Hans não estava cicatrizado, de modo que o misero muito padeceu nessa ocasião.

Terminada a festa, as indias entregaram o prisioneiro a Ipirú-guassú, a quem competia guardá-lo. Ipirú introduziu-o na cabana dos maracás, dizendo-lhe que aqueles idolos lhes haviam profetizado a captura de um português.