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AVENTURAS DE HANS STADEN
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Hans repeliu o horrivel assado, dizendo que, se nenhum animal irracional comia o seu semelhante, como podia um homem comer a outro ?

O antropofago cravou os dentes na carne, arrancou um naco e respondeu com a boca cheia :

— “Jauára ichê (sou um tigre). Está gostoso !”

— Realmente, que tigre ! exclamou Narizinho horrorizada, olhando para Pedrinho, que desta vez não teve animo de defender o canibal.

— Depois que Hans deixou Cunhambebe, continuou dona Benta, os indios levaram-no em exibição de cabana em cabana.

Um filho do cacique atou-lhe as pernas em tres pontos e obrigou-o a pular de pés juntos. Todos riam-se e exclamavam :

— “Aqui está a nossa comida pulando !"

Hans desconfiou que aquilo já fossem preparativos para o sacrificio e perguntou a Ipirá se o iam matar naquele dia. Ipirú respondeu que não, mas que era costume tratarem assim aos prisioneiros.

— Faziam como faz o gato ao camondongo, lembrou Narizinho.

— Isso mesmo, confirmou dona Benta, mas notem vocês que havia nisso mais brincadeira do que crueldade. Não ha termo de comparação entre o modo pelo qual os indios tratavam os prisioneiros e o que era de uso na Europa. Lá a “civilização” recorria a todos os suplícios, inventava as mais horrendas torturas. Assavam os pés da vitima, arrancavam-lhe as unhas, esmagavam-lhe os ossos, davam-lhe a beber chumbo derretido, queimavam-