1 É tão pouco conhecido o discurso histórico de José Bonifácio de Andrade e Silva, donde extraí este brilhante trecho, com que tão pomposamente fecha a sua oração acadêmica, que aqui reproduzirei o começo do mesmo discurso recitado na sessão pública da Academia Real das Ciências de Lisboa em 24 de junho de 1819. Encontram-se por todo esse discurso tantos pormenores sobre a vida de tão ilustrado brasileiro, que sinto não poder dar outros extratos por falta de espaço:
“É esta, ilustres acadêmicos, a derradeira vez, sim a derradeira vez (com pesar o digo), que tenho a honra de ser o historiador de vossas tarefas literárias e patrióticas; pois é forçoso deixar o antigo, que me adotou por filho, para ir habitar o novo Portugal, onde nasci. Assim o requer a gratidão e o ordena a vassalagem; assim o manda a honra, o instiga a saudade e a razão o exige. Depois que deixei na adolescência os pátrios lares da montanhosa mas amena província de São Paulo e me acolhi à Lusitânia, que meiga me recebeu em seus hospedeiros braços, trinta e seis anos são passados. Se almas degeneradas, de que nenhuma terra, por mais civilizada e boa que seja, está exempta, procuraram amargurar por vezes a minha cansada existência, e buscavam, mas em vão, malograr o meu patriotismo e bons desejos, o estudo da natureza e dos livros no seio da amizade, e a voz da consciência, foram sempre o bálsamo salutífero, que cicatrizam estas feridas do coração; cumpre pois deslembrar-me do passado. Seria porém ingrato e desumano, se me esquecera ao mesmo tempo do quanto devo a todos os homens portugueses, e mais que tudo das provas repetidas de amizade e estimação, que sempre me destes, com que generosamente me tenho penhorado, oh! vós nobres e sábios acadêmicos!”