Página:Brasileiras celebres (1862).djvu/99

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se interessante e recomendável, não só pelas suas maneiras agradáveis, como pela intrepidez e bravura do seu ânimo, merecendo por isso a atenção dos seus compatriotas, e a afeição e dedicação do mais generoso e valente indiano, que produziram as tribos brasileiras.

Ignora-se a que tribo de índios pertencia dona Clara Camarão, em que parte do Brasil viu a luz, e até o seu nome primitivo: embalde se percorrem, a este respeito, as páginas dos historiadores da Guerra Brasílica. É todavia de crer que, como seu marido, descendesse dos carijós, e nascesse em Vila Viçosa, nas abas da serra da Ibiapaba, onde os jesuítas estabeleceram uma aldeia de índios que assaz concorreu para a povoação da província do Ceará.

Ligada pelos laços do consórcio a dom Antônio Filipe Camarão, achava-se dona Clara com ele em Porto Calvo, onde o Conde de Bagnolo acabava de se fortificar, quando João Maurício de Nassau, à testa de um exército numeroso, tentou a conquista desta nascente vila, e tudo se pôs em movimento. Dona Clara Camarão empunhou as armas, incitou com o seu exemplo as senhoras de Porto Calvo, que se desalentavam em gritos de terror, e marchou à sua frente, contra os invasores holandeses. Ações brilhantes encheram as páginas da História nesse dia: mas a sorte das armas foi desfavorável aos nossos, que, podendo ser vencedores, tocaram a retirada, e abandonaram a vila.