MENINAS, MINHAS SENHORAS
E MEUS SENHORES:
IMAGINAI que, subterrâneo e distante, vos corre sob os pés um regato, e donde em onde a terra se abre em bocas de verdura, falando o refrescante murmurio das águas profundas.
Assim são os Poetas.
A nossa alma é como velho arco de ponte, sob o qual flui o rio do tempo, levando no seu curso as verduras da terra e as luzes do firmamento, cabelos corredios de algas e filamentos luminosos de mundos, flôres das margens e cometas do Infinito.
De quando em quando, da nossa própria alma tombam flôres mortas que o tempo leva e vai sumindo na imensidade da Distância.
¿Voltarão a passar sob a mesma ponte os brancos corpos de Ofélias, que se afastaram, fluindo na algidez do luar?
¿Qual o rio que, atravessando os mundos, os traga cinturados e reflectidos a repassarem as mesmas viagens, a repetirem o milagre do encontro?
A Memória.
Êsse o grande rio do tempo regressando à origem, como peregrino que fôsse a ver o mundo e ao lar doméstico voltasse, cabelos e alma empoados das flô-