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XXXVI

Oculto o tempo foi, incerta a era,
Em que o grão-caso contam sucedido;
Mas em parte é sem dúvida sincera
A bela história, que a escutar convido.
Feliz foi o ditoso, e feliz era
Quem tanto foi do céu favorecido,
Pois em meio ao corruto gentilismo
Merecer soube a Deus o seu batismo.

XXXVII

Incerto pelas brenhas caminhava
Um varão santo, que perdera a via,
Quando pelos cabelos o elevava
O anjo a onde o sol já se escondia;
E um selvagem lhe mostra, que se achava
Quase lutando em última agonia:
Ouve (lhe diz) o justo agonizante,
E uma estrada de luz tomou brilhante.

XXXVIII

Auréo (que assim se chama o sacro enviado),
Encostando-se ao velho titubeante,
Por ignorar-lhe o idioma não falado,
No seu diz, de que o enfermo era ignorante;
E ouve-se responder (caso admirado!)
Numa língua de todo extravagante,
Que, sendo em tudo extraordinária e bruta,
Faz-se entender, e entende-o no que escuta.