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XXXVI

Tu, que mil vezes no remoto oriente
Levantaste troféus de gloria onustos,
A quem cedera o Malabar potente
Em armadas e exércitos robustos;
Tu, que foste o terror da índica gente,
Que da Lísia humilhaste aos reis augustos,
Lá estava entanto a tua sorte escrita
De vires a acabar nesta desdita."

XXXVII

Mais prosseguir não pôde sufocado
O bom Garcez em amargoso pranto;
E condoeu-se Diogo, recordado
De ver-se em outro tempo em caso tanto;
E, havendo os naufragantes consolado:
" Não sou (diz) insensível, que sei quanto
Acerbo o caso é, cruel o artigo,
E a piedade aprendi no meu perigo.

XXXVIII

Recebei, entretanto, valorosos
Corn magnânimo peito a adversidade;
Conseguireis por transes perigosos
Fazer-vos dignos da imortalidade.
Deixareis monumentos gloriosos
A uma longa e feliz posteridade;
E ganhando obtereis com tanta glória
Um nome eterno nos padrões da história."