Página:Caramuru 1781.djvu/73

Wikisource, a biblioteca livre
LXXV

Acabada a comida, a turba bruta
O Estrangeiro bem-vindo outra vez grita;
E a tropa feminina, que isto escuta,
Cobre a face com as mãos e o pranto imita.
Gupeva, pois, que o hóspede reputa
Causa do seu prazer e autor da dita,
O sacro fogo a roda lhe ateava,
Cerimônia hospital, que o povo usava.

LXXVI

Bem presumia Diogo, no que explora,
Que algum mistério se ocultava interno;
Lembra lhe a chama que o Caldeu adora,
O fogo das vestais recorda, eterno.
Nem duvidava que de origem fora
Costume da nação, rito paterno,
Trazida, se é possível que se creia,
Na dispersão das gentes, da Caldéia.

LXXVII

Perguntá-lo dos bárbaros quisera;
Mas, como o aceno e língua muito engana,
Acaso soube que a Gupeva viera
Certa dama gentil brasiliana;
Que em Taparica um dia compreendera
Boa parte da língua lusitana,
Que português escravo ali tratara,
De quem a língua, pelo ouvir, tomara.