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CARTAS DE INGLATERRA

E durante esse tempo Sua Graça banqueteia-se, bebe Chateaux Margaux de 6$000 reis a garrafa, caça, etc. — e aluga a fazenda, d’onde expulsou o miseravel n.º 1, ao rendeiro n.º 2. Sómente o n.º 2, como a encontra melhorada pelo antecedente, paga-a mais cara: e depois de explorado, sugado, expremido, durante dois ou trez annos, é expulso — para dar logar ao n.º 3. Este infeliz passa pelo mesmo processo de trituração, et sic per omnia...

E as expulsões são inevitaveis, porque, com a altura absurda das rendas, é impossivel que o rendeiro as possa pagar — e viver.

 

Isto, como comprehendem, é apenas um vago contorno da realidade, apontada nas suas feições essenciais.

Descendo-se a detalhes — vê-se então uma horrorosa tréva de injustiça e miseria.

Mas como pódem taes cousas passar-se no seculo XIX, e ao lado do povo inglez?

Como permitte uma nação tão justa a existencia de tanto oprobio? — dir-me-hão.

Justamente essa pergunta a fazia Victor Hugo ha dias a Parnell, o chefe da Liga Agraria, na sua