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Página:Cartas de Inglaterra (Eça de Queirós, 1905).djvu/114

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CARTAS DE INGLATERRA
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Tancredo ou Endymion, não basta para marcar n’uma litteratura, que teve contemporaneamente Dickens, Tackeray e Georges Eliot.

Como succede, depois d’isto, que a Inglaterra, paiz tão pratico, tão bem equilibrado, se deixe levar em um tal arranque de admiração pelo homem que foi a personificação, a encarnação de tudo quanto é contrario ao temperamento, ás maneiras, ao gosto inglez? É que Lord Beaconsfield, mais que nenhum outro contemporaneo, impressionou a imaginação ingleza — e na fria Inglaterra, como sob céos mais calidos, são grandes as influencias da imaginação.

Podia-se ás vezes sorrir das suas phantasticas obras d’arte, protestar contra as suas theatraes combinações politicas, mas atravéz de protestos e sorrisos a sua propria personalidade nunca deixou de maravilhar e de fascinar. Qualquer inglez, medianamente educado, a quem se pergunte a sua opinião sobre Lord Beaconsfield dirá: Foi um homem extraordinario!

Extraordinario — é como elle se nos representa, agora que se vê o conjunto da sua existencia, que não parece ter sido um producto natural dos factos ou das occasiões, mas uma creação subjectiva da sua propria vontade, e como um enredo de romance talhado pela sua penna. Senão veja-se. Tendo nascido judeu — tornou-se o chefe de uma aristocracia saxonia