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Página:Cartas de Inglaterra (Eça de Queirós, 1905).djvu/117

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CARTAS DE INGLATERRA

novo, e quando as modas romanticas o permittiam, vestia-se de setim e velludo, recobria-se d’um luxo de medalhões e joias, as suas proprias calças tinham bordados d’ouro. Agora era mais sobrio de toilette: usava apenas esses casacos compridos como tunicas, a que os homens de origem judaica são particularmente affeiçoados, e o seu unico adorno eram os bellos ramos que lhe enchiam o peito. Um jornalista francez, n’um dia de crise politica em que Lord Beaconsfield devia fazer um discurso decisivo, encontrou-o momentos antes, n’um dos salões da camara, occupado a encher d’agua o tubosinho de crystal que por traz da botoeira da casaca conservava frescas as suas rosas. Todo o homem está n’este traço.

De raça oriental, teve sempre o amor do fausto, das pedrarias, dos ricos tecidos, da pompa; os seus romances transbordam de descripções de palacios, de festas perante as quaes as mais ricas galas de Salomão são como desbotados scenarios de theatro de feira; o seu estylo resente-se d’este gosto: é um sumptuoso estofo, com recamos de ouro, cravejado de joias, scintillante e espesso, cahindo em belas pregas ao comprido da idéa. O dinheiro, o ouro, preoccuparam-n’o sempre, menos pela sua influencia social, que pelo mero esplendor da sua amontoação. Os seus heroes possuem fortunas tão prodigiosas que seriam impossiveis nas condições economicas do