Página:Cartas de Inglaterra (Eça de Queirós, 1905).djvu/131

Wikisource, a biblioteca livre
116
CARTAS DE INGLATERRA

de perceber que a Inglaterra estava tomando sobre os hombros responsabilidades desproporcionadas com a sua força.

Depois, um dia, o grande senso pratico da Inglaterra viu claramente a necessidade de brilhar menos aos olhos do mundo — e de se occupar da machina interior, que começava a desarranjar-se: pôz fóra o grandioso Beaconsfield, e chamou o pratico Gladstone — o homem que reconstitue as finanças, que allivia os impostos, que faz as grandes reformas interiores... Mas, apesar de tudo, Beaconsfield ficou como o typo do estadista que mais que nenhum outro amou e desejou a grandeza imperial da patria.

A esta causa de popularidade deve juntar-se outra — a reclame. Nunca um estadista teve uma reclame igual, tão continua, em tão vastas proporções, tão habil. Os maiores jornaes de Inglaterra, da Allemanha, da Austria, mesmo da França, estão (ninguem o ignora) nas mãos dos israelitas. Ora o mundo judaico nunca cessou de considerar Lord Beaconsfield como um judeu — apesar das gotas d’agua christã que lhe tinham molhado a cabeça. Este incidente insignificante nunca impediu Lord Beaconsfield de celebrar nas suas obras, de impôr pela sua personalidade a superioridade da raça judaica, — e por outro lado nunca obstou a que o judaismo europeu lhe prestasse absolutamente o tremendo apoio do