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CARTAS DE INGLATERRA

sempre em extasi, que é a personificação da Egreja Catholica; e emfim uma doce e loura donzella, séria, grave e terna, que symboliza o Protestantismo. Depois d’hesitar entre estas tres paixões — decide-se, como um bom inglez, por casar com o Protestantismo, quero dizer, com a loura, conservando um culto vago e secreto pela Democracia, quero dizer, pela soberba americana de perfil marmoreo. Moral: a felicidade d’um povo está na posse d’uma forte moral christã, alliada a um uso moderado da liberdade. Isto dava um excelente e apparatoso fresco na sala d’um parlamento. E Lord Beaconsfield accentua os detalhes allegoricos com uma tal ingenuidade, que faz por vezes sorrir; assim, por exemplo, a americana, isto é, a Democracia, apparece sempre em soirées e festas vestida á grega, com uma estrella de brilhantes na fronte, como a cabeça da republica nas moedas francezas de cinco francos!

O meio, em que os seus romances se passam, tem quasi sempre um ar feerico: tudo são, como disse ha pouco, palacios d’um fabuloso e sombrio luxo, festas como as não tiveram os Medicis, fortunas de banqueiros, de duques, perante as quaes os Cresus, os Monte-Christos, os Rothchilds, todos os ricaços da lenda ou da realidade apparecem como despreziveis pelintras.

A linguagem d’estes personagens corresponde