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Página:Cartas de Inglaterra (Eça de Queirós, 1905).djvu/154

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CARTAS DE INGLATERRA
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mas Arabi é um egypcio; e no Egypto, onde o povo fellah, apesar de tão intelligente como qualquer das nossas plebes, é pouco mais que uma irresponsavel horda de escravos, e onde o exercito constitue a classe culta — a obra de progresso tem necessariamente de ser feita pelo soldado. Na Europa, porém, não se sabe isto — ou, antes, finge-se que não se sabe. As exigencias da tarimba puzeram na sombra as reclamações da cabana — e Arabi perdeu na Europa a auctoridade que podia ter como chefe dos fellahs por fallar de espada na mão, d’entre um quadrado de soldados...

De certo, Arabi não é um Mazzini, nem um Luiz Blanc. É um arabe do antigo typo, que apenas leu um livro — o Alcorão. Mas, como homem, possue qualidades de intelligencia, de coração, de caracter, que não ousam negar aquelles mesmos que o estão combatendo tão brutalmente. E como patriota, está á altura dos grandes patriotas: havia certamente muito egypcio no Egypto que abominava o sordido regimen khedival e soffria de vêr o rico valle do Nilo devorado pelo estrangeiro, como outr’ora pelos gafanhotos; — mas esses limitavam-se a curvar tristemente os hombros, invocando o nome de Allah.

Este é o primeiro que entendeu que Allah, apesar de grande e forte, não póde attender a tudo, e