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CARTAS DE INGLATERRA

tal precedente, os almirantes inglezes, que honram frequentemente o humilde porto de Lisboa com a presença dos seus pavilhões — estariam auctorisados a exigir a destruição da torre de S. Julião, do Bugio e de Belém! Dir-se-hia que não é de prever que o portuguez, pacato e bonacheirão, faça fogo — muito menos sobre couraçados inglezes. De accordo. Mas que ganharia Arabi-pachá em mandar de surpreza algumas balas á esquadra ingleza — e portanto ás outras que estavam no mesmo ancoradouro — senão o attrahir sobre si, e o seu partido, e o seu paiz, a pavorosa vingança da Europa inteira, injuriada em todos os seus pavilhões?

Arabi fez uma cousa fina: cedeu, promettendo interromper os trabalhos de defesa. E a Inglaterra ficou desapontada. Esta submissão de Arabi desmanchava o seu engenhoso plano.

Alguns jornaes mais cynicos e impacientes chegavam a aconselhar que se não respeitasse a palavra d’um vil mussulmano — e que se fosse bombardeando! O trabalho então da frota foi vigiar incessantemente as fortificações, na esperança de descobrir algum sapador, d’enxada ao hombro, que desmentisse a promessa d’Arabi. De noite, os couraçados projectavam sobre a costa longos e vivos raios de luz electrica, movendo-os lentamente ao longo das baterias, pesquizando anciosamente os menores recantos,