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CARTAS DE INGLATERRA

devastadores como um cataclysmo e exactos como uma sciencia.

Pobres fortalezas de Mehemet-Ali! Foi a velha fabula da panella de barro contra que tombou a panella de bronze. Ao anoitecer, eram apenas montões de ruinas fumegando em silencio...

Estava consummada a façanha! Na bahia, agora, tudo cahira n’uma grande paz; a noite descera calma e escura; os enormes couraçados repousavam; da cidade vencida não vinha o menor ruido; só n’um ponto de terra o palacio de Rasel-tin ardia ao abandono. Foi então que o eloquente correspondente do Standard telegrahou para o seu jornal esta phrase que merece fama: — A situação não póde ser mais satisfactoria!

Pelo meio da noite, porém, da parte de Alexandria, onde ficava a Praça dos Consules, começou a erguer-se um vasto clarão. Alli, evidentemente, havia um incendio. Mas como? Porque?

O almirante Seymour lavaria d’ahi as suas mãos — se tivesse a bordo a bacia de Poncio Pilatos. Elle concentrára escrupulosamente o seu fogo sobre os fortes: uma ou outra bomba poderia ter cahido nos bairros arabes — e nada mais legitimo, nem de mais salutar terror; mas a parte européa de Alexandria fôra poupada... E todavia, era lá que o incendio se estendia avermelhando, aquecendo o ceu; e de