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CARTAS DE INGLATERRA
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nisação, os seus chefes, tudo está envolvido n’um mysterio, que é o terror na Irlanda; só são claros os seus crimes. Ha um proprietario duro que levantou a renda? Uma noite, ou elle, ou o seu procurador apparecem á beira de um caminho, com duas balas na cabeça. Quem foi? Foi Mollie Maguire: foi ninguem, foi a Miseria, foi a Irlanda. Ha um senhorio, um agente, que fez uma penhora? Á meia noite, a sua casa começa a arder, e é n’um momento uma ruina fumegante. Quem foi? Mollie Maguire. Houve um burguez especulador que comprou o casebre de um proprietario penhorado? No outro dia lá está no fundo de uma lagôa, com um pedregulho ao pescoço. Quem foi, coitado?! Mollie Maguire. Todos os dias, n’estes ultimos mezes, são assim, dois, trez d’estes crimes — que têm em Inglaterra o nome de agrarios. Os tribunaes, a policia, já se não fatigam em devassas e em autos: para que? Mollie Maguire é intangivel, Mollie Maguire é impessoal.

E se houvesse um magistrado tão desgostoso da vida que quizesse descobrir d’onde viera a bala, o pedregulho ou o fogo — teria certamente, horas depois, o que tanto parecia desejar: um punhal atravez do peito. São verdadeiramente os processos do Nihilismo militante: nem falta a esta seita aquella vaga exaltação mystica que complica o Nihilismo. Se Mollie (Mollie é o diminutivo de Maria) não é