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Página:Cartas de Inglaterra (Eça de Queirós, 1905).djvu/95

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CARTAS DE INGLATERRA

elle toda a antipatia desdenhosa que uma raça de improvisadores póde ter por uma raça de criticos e de analistas. Na ordem social, como na ordem domestica, ha entre a Polonia e a Irlanda outras curiosas afinidades. A ultima táctica da Irlanda, mesmo, é imitada da Polonia: a Irlanda vae apelar para a Europa e é Victor Hugo quem fallará em nome dela, n’um manifesto com o titulo de Opressor e Oprimido.

Mas a Inglaterra realmente não se parece com a Russia: nem mesmo atravéz da nevoa da sensibilidade, atravez da paixão pela causa da Irlanda, o mais esclarecido dos liberalismos póde ser confundido com o mais boçal dos despotismos. E todavia a Inglaterra, para não perturbar os interesses tyrannicos d’um milhar de ricos proprietarios, deixa na miseria quatro milhões de homens. Tem todo o territorio irlandez occupado militarmente. Apenas um patriota começa a ter influencia na Irlanda, prende o patriota. Quando a eloquencia dos deputados irlandezes se torna inquietadora, abafa-a, quebrando sem escrupulos uma tradição parlamentar de seculos. Vae governar a Irlanda pela Lei marcial, como qualquer czar. E, para suspender os planos da Liga Agraria, viola os segredos das cartas.