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CARTA DE GUIA DE CASADOS

tada, bem galante, e bem luzida, mas de grande recolhimento.

As idas ao Paço são devidas, justas, e boas; as vezes devem de ser contadas. Nascimentos de infantes, bodas, festas de entre ano, achaques de principes, sua saúde, novas notáveis, e pouco mais que isto. O ir só. não é elegante; seja a companhia sempre boa, mas não de pessoa maior (salvo a primeira vez) cuja autoridade some o agasalho, que cada um deseja de achar na graça dos reis, em suas casas, e em as de qualquer hóspede.

Acontece que muitas mulheres muito para isso, começam a cobrar (vâmente) fumos de bem vistas das rainhas, e princesas; a que, sem algum fruto, se segue grande inquietação. E sucede mais, que para dourarem sua ligeireza, se hão com os maridos como dizem que fazem os negros dos mercadores, que em indo por onde querern, lapam a boca aos amos com dizer-llies que foram ouvir missa. Vem muitas vezes a ser o licito capa e manto do ilicito. Com achaque de que vão ao Paço. se gasta o tempo ein ociosidades, e a casa se desgoverna.

A mulher principal basta-lhe que a sua rainha a conheça. Em melhor conta a terá quando vir o siso coni que procede, as poucas vezes que a vir. O correio extraordinário a todos alvoroça, quando chega; o correio ordinário vai e vem, sem ninguém fazer caso děle. As pessoas de fóra do serviço dos principes, é custosa, e arriscada a pretensão de seu favor. Punha um grande cortesão o servir às damas, e aos reis, com o uso do limão, e da laranja; que o limão quere que o apertera muito, e então dá melhor sumo; a laranja se quere espremida muito a de leve, porque logo amarga em se apertando. As damas querem ser assistidas; us reis vis-