Amâncio teria tudo isso às suas ordens; podia dispor!... acrescentou o outro. E, abrindo cuidadosamente a porta do gabinete que ficava ao lado, disse, com a entonação de um guarda de museu que vai mostrar uma raridade:
— Eis o ninho que te destino! É o lugar mais catita de toda a casa; isto, porém, não quer dizer que os outros cômodos não estejam à tua disposição!... Se, mais tarde, te apetecer trocar de quarto...
E, logo que entraram, foi-lhe mostrando a caminha cheirosa, o pequeno lavatório de pedra-mármore; fê-lo notar o bom estado da cômoda, a elegância do velador, o artístico das escarradeiras.
— E ali, o grande mestre! exclamou com ênfase, apontando para a gravura da parede.
— "Vítor Hugo", leu Amâncio debaixo do retrato. — Bom poeta! acrescentou.
— Creio que não ficarás mal, hein?... disse o outro.
— Ah! não! respondeu o provinciano, assentando-se fatigado em uma cadeira. E o preço?
— Ah! Isso depois... minha mulher é quem sabe dessas coisas, mas não havemos de brigar!...
E riu.
— Ficas aqui muito bem! Serás tratado como um filho; quando precisares de qualquer cuidado, numa moléstia, numa dor de cabeça, hás de ver que te não faltará nada! Além disso — podes entrar e sair à vontade, livremente, às horas que entenderes; se gostas de teu chazinho à noite, com torradas, hás de encontrá-lo, abafado, à tua espera sobre aquela mesa... De manhã, se quiseres o café na cama, também terás o teu café e, quando estiveres aborrecido do quarto, tens o salão, tens a sala de jantar, a chácara, o jardim; finalmente, tens tudo às tuas ordens!