Foi então um rodar convulso, frenético: a casa, os móveis, as paredes, tudo girava em torno deles.
Hortênsia dançava tão bem como o rapaz. Os dois pareciam não tocar no chão; os passos casavam-se como por encanto; as pernas gravitavam em volta uma das outras com precisão mecânica.
Encheu-se a sala de pares. Amâncio fugiu com Hortênsia, sem interromper a valsa; pareciam empenhados numa conjuntura amorosa. Ela arfava, sacudindo o colo com a respiração; os seus braços nus tinham uma frescura úmida; os olhos amorteciam-se defronte dos dele; não podia fechar a boca, o seu hálito misturava-se ao hálito fogoso do estudante.
De repente, Amâncio parou, exausto. Ouvia-se-lhe de longe a respiração.
— Não! não! balbuciava ela, quase sem poder falar. — Ainda! mais um pouco!...
E abraçaram-se de novo, freneticamente.
Quando parou a música, Hortênsia caiu sobre um divã pelos braços de Amâncio.
Não podia dar uma palavra; não podia abrir os olhos. Sua respiração parecia longos suspiros contínuos e estalados.
Vários cavalheiros se aproximaram.
— Ficou muito fatigada?... perguntou Amâncio, inclinado-se sobre ela, a mão apoiada nas costas do divã.
Hortênsia não respondeu. Cobriu o rosto com o lenço de rendas e continuou recostada. Foi a voz do marido que a despertou.
— Que loucura é esta Neném?... perguntou ele, sorrindo com o seu bom ar de homem honesto.
Ela sorriu também, e pediu desculpas com o olhar.
— Sabes que te faz mal, para que valsas?...