Antes de chegar ao gabinete, percebeu que alguém o seguia com dificuldade. A sala de visitas estava já totalmente às escuras. Voltou-se, e, sem ter tempo de dizer palavra, sentiu cair sobre ele um corpo gordo e mole.
Era Nini.
Amâncio, surpreso e contrariado, quis arredá-la, mas a histérica passou-lhe os braços em volta do pescoço e desatou a chorar, com o rosto escondido no seu colo.
— Hein?! disse Amâncio. — Que história é esta?!
Mas lembrou-se logo das recomendações de Mme. Brizard: "Qualquer contrariedade poderia provocar à infeliz rapariga uma crise perigosa!"
— Ora esta!... pensou ele aborrecido. — Ora esta!...
E procurou afastar Nini, brandamente. E, como a teimosa não quisesse obedecer e continuasse a chorar, ele disse-lhe palavras amigas, pediu-lhe, quase com ternura, que voltasse à varanda; lembrou que não era prudente ficarem ali, sozinhos e no escuro. — Podiam ser surpreendidos! Esta idéia o aterrava mais pelo ridículo do que pela responsabilidade daquela situação.
Nini entretanto, parecia não ouvir coisa alguma e continuava a abraçá-lo freneticamente, com ímpetos nervosos.
Amâncio perdeu de todo a paciência e arrancou-se violentamente dos braços dela.
— Deixe-me! gritou, e correu para o quarto.
Nini acompanhou-o chorando, e conseguiu agarrá-lo de novo, pelo paletó.
Estava muito nervosa e dispunha agora de uma força extraordinária.
— Isto não será um inferno?! exclamou o rapaz, puxando a roupa das mãos de Nini. E, vendo que ela não o largava: — Solte-me, com a breca! Ora essa! Que diabo quer a senhora de mim?! Solte-me! Arre!