da vela, cada vez mais abstrato e mais febril.
Sentiu vontade de beber. — Se não estava enganado — a garrafa de conhaque ficara sobre o aparador, na varanda.
Ergueu-se, enfiou o sobretudo e saiu da alcova.
O sangue não lhe queria ficar quieto. A continuar daquele modo, o remédio que tinha era pôr-se ao fresco e vagar pelas ruas, até encontrar sossego.
O conhaque não estava no aparador, Amâncio, contrariado, desceu à chácara, e foi assentar-se a um banco de pedra. — Naquele momento comeria alguma coisa, se houvesse, pensou ele, resolvido a organizar no dia seguinte um bufê no seu próprio quarto.
A lua escondia-se agora entre nuvens; as árvores rumorejavam; tudo parecia concentrado e adormecido.
Debaixo viam-se as janelas dos quatro cômodos do segundo andar, que davam para a chácara. Lá estava o n.os 8, 9, 10 e 11. Começou a pensar nos hóspedes daqueles quartos: o 11 era do tal Correa, o médico que só aparecia ali de quando em quando, "para fazer uns trabalhos que os filhos não lhe permitiam em casa da família"; o 10 era do gentleman — Bom maçante! Amâncio lembrou-se de que lhe prometera acompanhá-lo uma noite qualquer ao Passeio Público. — Havia de ir, disseram-lhe que às vezes se encontravam aí boas coisas!...
O 9 é que ele não se lembrava a quem pertencia... Ah! era do tal Melinho, "a pérola", como o qualificava João Coqueiro constantemente.
E o 8 de Lúcia! da misteriosa Lúcia!
Ela estava ali!... fazendo o quê... pensando nele talvez... talvez dormindo... talvez até nem dela fosse o bilhetinho amoroso e os dois ramilhetes!... Quem, sabia lá!...