Mendes não respondeu e continuou a trabalhar, meneando a cabeça resignadamente. Catarina remexeu-se com mais agitação e rangidos de cama, e, daí a pouco levantou-se de um salto, gritando:
— Arre, com os diabos! que nem se pode dormir!
— Olha os vizinhos, filha!... arriscou o marido. — Lembra-te de que são três horas da madrugada...
— Os vizinhos que se fomentem! Berrou ela, embrulhando-se na colcha e fazendo tremer o soalho com seus passos de granadeiro. — Não como em casa deles, não preciso deles para nada!
E, depois de ir beber um copo d'água ao fundo do quarto:
— Tinha graça! que eu, além de tudo, não pudesse falar à minha vontade! Melhor seria, nesse caso, que me amarrassem uma bala aos pés e mandassem atirar comigo ao mar!
— Estás de mau humor, filha! Vê se descansas.
— Não é de espantar, levando a vida que eu levo! sempre numas porcarias de quartos! Se precisa de qualquer coisa, é um "ai Jesus!". Nunca há dinheiro! O almoço é aquilo que se sabe; o jantar pior um pouco! Se fico doente, se tenho uma debilidade, não há quem me traga um caldo! não há quem me dê um remédio! Arrenego de tal vida, diabo!
— Ó Catarina!... disse Mendes ressentindo-se. — Pois eu não estou aqui?... Algum dia já me afastei de teu lado, ao te sentires incomodada?
— E antes que se afastasse, creia! porque já me custa suportá-lo quando estou de saúde, quanto mais doente. Casca! — atirar-me em rosto uns miseráveis serviços que qualquer uma faria!... Pois não os faça, que até é favor! Passo muito melhor sem eles!
— Está bom, senhora, está bom! Não precisa arreliar-