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Página:Casa de Pensão (1899).djvu/238

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Mas, também, não convinha esperdiçar uma questão tão boa para desmascarar a velhaca.

Encaminhou-se, pois, na direção do quarto do estudante. Lúcia, ao sentir que alguém se aproximava, correu a fechar a porta por dentro, e fez sinal de silêncio ao enfermo.

Coqueiro parou defronte do n.º 6 e bateu.

— Quem é? perguntou Amâncio, no fim de pequena pausa, com a voz levemente alterada.

— Sou eu, disse o outro. Precisava dar-te duas palavras... como vi luz no quarto...

— Desculpa! respondeu o doente. — Mas agora não me posso levantar. Até logo!

— Boa noite! resmungou o dono da casa, e afastou-se.

Lúcia fingiu-se muito assustada com aquilo: — Coqueiro, se veio ali, foi para mostrar que sabia de tudo! Naturalmente espiara pela fechadura!

E pendurou logo uma toalha na chave.

— É o que se chama ter fama sem proveito!... observou Amâncio, a quem as negaças da mulher de Pereira já impacientavam.

— Está em tuas mãos!... volveu ela. — Já te expus com franqueza as circunstâncias...

— Tira-te do marido...

— Está claro!

— Isso por ora é impossível... Mais tarde, não digo que não, mas por enquanto...

— É porque não me amas, disse a ilustrada senhora, abaixando os olhos.

— Se te amo, minha vida! se te amo!...

E ameigava-a, procurando beijá-la.

Ela fugia com o rosto, dizendo aflitivamente que preferia nunca o ter visto. "Antes de conhecê-lo, ainda conseguia suportar o marido abominável a que a prendera