de aço. — Não fiquei sabendo dar um tiro, que, se o soubesse, acabaria aqui mesmo com esta vida estúpida e miserável!...
Se eu tivesse ânimo... pensou ele, estremecido com a idéia da morte — amanhã encontrariam o meu cadáver e não ficariam naturalmente fazendo de mim um juízo tão triste e tão ridículo! — Talvez até chegassem a amaldiçoar o outro e erguessem em volta de meu nome uma legenda respeitosa e compassiva...
Foi à gaveta, havia lá algumas balas, carregou a arma.
— Não há dúvida, é a melhor coisa que eu poderia fazer... reconsiderava Coqueiro, imóvel, a olhar indeciso para o revólver que tinha na mão.
Mas era bastante chegá-lo contra a boca ou contra um dos ouvidos, para que os seus dedos logo se paralisassem e para que um arrepio muito agudo lhe corresse pela espinha dorsal.
Faltava-lhe a coragem.
Duas vezes ergueu-o à altura da cabeça, duas vezes o desviou, com as mãos trêmulas e o corpo entalado numa agonia insuportável.
— É horrível! resmungava ele. — É horrível!
Ia principiar de novo as tentativas, quando da rua uma forte matinada lhe prendeu a atenção. Um grupo se aproximava, entre cantarolas e algazarras de risos.
Eram dez ou doze dos últimos convivas de Amâncio; haviam passado todo o dia e grande parte da noite a folgazar no Paris; muitos, como o autor da pândega, lá ficaram prostrados pela bebida, mas aqueles tiveram a fantasia de um passeio matinal ao Jardim Botânico e meteram-se barulhosamente no bonde.
Já no Largo do Machado, um deles, um, que de há muito trazia Coqueiro atravessado na garganta, lembrou