A igreja agrada muito pelo aceio e o zelo com que é conservada; quasi toda a ornamentação, imagens, vasos, alfaias, orgão, lampadas, são offertas feitas a Nha Chica, que não cessa de repetir os nomes dos que têm contribuido para sua obra, especialmente o do fallecido Visconde do Cruzeiro.
« Era muito devoto de minha igreja aquelle santo homem; todos os annos me fazia uma offerta de valor; amanhã mando rezar uma missa solemne no altar, que ha dous annos elle mandou dourar, e onde colloquei a imagem da Piedade, que elle me mandou de Roma, da cidade santa onde mora o papa, um mez antes de morrer; vou mandar dobrar os sinos desde muito cedo. De lá da bemaventurança elle me ha de agradecer.»
Os elogios que fiz da igreja enterneceram Nha Chica, que recitou-me muitas poesias de sua lavra.
— « E’ o Espirito Santo que inspira, porque tenho fé viva.»
Consultei-a sobre as-águas de Caxambú.
— « Só tenho fé na ferrea: póde ser que tendo-se fé em Nossa Senhora as outras lucrem. Mas eu creio que só se deve tomar da ferrea, mas só ao pôr do sol: e si ella não fizer effeito como sahe do poço, é bom pôr-lhe assucar.»
Já nos despediamos de Nha Chica, que nos agradecia a attenção com que a tinhamos ouvido, a mim especialmente, porque armado de lapis tomáva notas do interview, repetindo-me que « lesse bem o papel para ser verdadeiro quando contasse o que tinha ouvido, » quando entraram umas mulheres pedindo a chave da igreja para cumprirem uma promessa; traziam velas de céra e um prato com esmolas, colhidas pela cidade.
Não me compete dizer se Nha Chica é uma fanatica.