Página:Cidades Mortas (contos e impressões) - 1921.pdf/34

Wikisource, a biblioteca livre
24
GRAMMATICA VIVA

osso, que apanhou logo, muito encalistrado. Depois, ás voltas com uma asa do palmipede, falseou-lhe a faca, resultando espirrar-lhe á cara um chuvisco de arroz. A Prequeté por sua vez espirrou lá dentro uma risadinha de mófa, acompanhada de um mortificante — ché!...

O reverendo entrou-se de duvidas. Era lá possivel que o dr. Emmerencio do Val fosse um estupor daquelles?

A' sobremesa caiu a conversa sobre a politica e o doutor desmanchou-se em sandices graúdas. Emquanto asneava, o padre matutava lá comsigo:

— E eu com cerimonias, e eu com bobices, e eu querendo até privar-me do pito por amor dum Zé-faz-fôrmas destes! Fumo-lhes nas ventas, e já!

Nisto veiu o café. Emquanto o ingerem o doutor entra a discorrer de remedios, pharmacias e projectos de estabelecimento.

O reverendo, decifrando o enigma, deteve a chicara no ar.

— Mas, então, o senhor...

— Sou pharmaceutico, e venho estudar a localidade a ver se é possivel montar aqui uma botica. Portei em sua casa porque...

O padre mudou de cara.

— Então não é o dr. Emmerencio, o diplomata?

— Não tenho diploma, não, senhor, sou pratico...

O padre sorveu d'um trago o café e refloriu a cara num sorriso de beatitude; depois, desabotoando a batina, atirou com os pés para cima da mesa, expelliu um succulento arroto de bemaventurança e berrou para dentro:

— Maria, dá cá o pito!