Página:Cinematographo.djvu/186

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- Mas que juiz esse que deseja moralizar uma pequena de tanta força.

- O diabo é que a rapariga tem jeito. Bom! A postos, minhas senhoras. Maestro, repita.

De novo o piano começou o cake-walk e as mulheres de capa larga, com a face desbotada pela noite em claro, moveram-se num rumor de sedas roçadas. Eu, a um canto, vendo passar no palco aquele punhado de mulheres, que à noite acenderia desejos na platéia, pensava na vida curiosa das coristas nacionais. Ah, as coristas! Neste país em que as mulheres não têm grandes necessidades, o posto de corista era positivamente dado às infelizes. Os autores nada lhes faziam nas peças alegres, nem as punham em relevo. Eram damas ou muito gordas ou muito magras, lamentavelmente sem graça. Quando aparecia uma criatura mais moça, ou não demorava, ou morria, ou era logo artista empurrada pelos cômicos, jungida às ligações violentas. E era uma tristeza ver mulheres velhas com famílias numerosas, o ventre enorme, o corpo numa elefantíase de linhas, cambando os sapatos e sujando as gazes, clamarem nos revistões cariocas: "Nós somos as ninfas", ou outra qualquer afirmação ainda mais escandalosa, para ganhar cinco mil-réis... Era angustioso. Nos ensaios, os ensaiadores esgoelavam-se para fazê-las compreender um gesto comezinho, nos intervalos, algumas davam