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Página:Cinematographo.djvu/58

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Eu sentia acentuar-se um mal-estar bizarro. Sertório ria.

- A vulgaridade da populaça! Há por aqui, entre esses marçanos fortes, gente boa. Há também ruim. Estão fatalmente destinados ou a apanhar ou a dar, desde crianças. É a vida. Alguns são perversos: provocam, matam. Vais ver. Nasceram aqui, de pais trabalhadores...

Tínhamos chegado à Rua Camerino, esquina da da Saúde. Há aí uma venda com um pequeno terraço de entrada. O prédio desfaz-se, mas dentro redemoinha uma turba estranha: negralhões às guinadas, inteiramente bêbedos, adolescentes ricos de músculos, embarcadiços, foguistas.

Fala-se uma língua babélica, com termos da África, expressões portuguesas, frases inglesas. Uns cantam, outros rouquejam insultos. Sertório aproxima-se de um grupo. Há um mulato de tamancos, que parece um arenque ensalmonado, no meio da roda. O mulato cuspinha:

- Go on, go on... yeah. farewell! yeah!

É brasileiro. Está aprendendo todas essas línguas estrangeiras com os práticos ingleses.

Há um venerável ancião, da Colônia do Cabo, tão alcoolizado que não consegue senão fazer um gesto de enjôo; há um copta, apanhado por um navio de carga no Mar Vermelho; há dois negrinhos retintos, com os dentes de uma alvura estranha, que bradam: