Página:Collecção de autores portuguezes (Tomos I-IV).djvu/240

Wikisource, a biblioteca livre
212

Fluente, armoniosa, discorrendo
Em pratica singela, sobre assumptos
Diversos, sobre flores, menos bellas
Do que o seo rosto, e céos, como ella, puros.
Mas quem n’a ouvira conversar de amores
Trouxera n’alma como uma harpa eolia,
     Dia e noite vibrando,
     Como um cantar dos anjos
Do coração a estremecer-lhe as fibras!




SE SE MORRE DE AMOR!


Meere und Berge und Horizonte zwischen den Liebenden — aber die Seelen versetzen sich aus dem staubigen Kerker und treffen sich im Paradiese der Liebe.

Schiller, Die Rüuber.

Se se morre de amor! — Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surprende
De ruidoso saráu entre os festejos;
Quando luzes, calor, orchestra e flores
Assomos de prazer nos raião n’alma,
Que embellezada e solta em tal ambiente
No que ouve, e no que vê prazer alcança!

Sympathicas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabellos,
Um quê mal definido, acaso podem
N’um engano d’amor arrebatar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delirio,
Devaneio, illusão, que se esvaece
Ao som final da orchestra, ao derradeiro
Clarão, que as luzes no morrer despedem!
Se outro nome lhe dão, se amor o chamão,
D’amor igual ninguem succumbe â perda.