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Página:Collecção de autores portuguezes (Tomos I-IV).djvu/510

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"Nenhum de vós ouse reprovar os hinos compostos em louvor de Deus."
Concílio de Toledo IV, Cân. 13.

Muitas vezes, pela tarde, quando o sol, transpondo a baía de Cartéia, descia afogueado para a banda de Melária, dourando com os últimos esplendores os cimos da montanha piramidal do Calpe, via‑se ao longo da praia vestido com a flutuante estringe o presbítero Eurico, encaminhando‑se para os alcantis aprumados à beira‑mar. Os pastores que o encontravam, voltando ao povoado, diziam que, ao passarem por ele e ao saudarem‑no, nem sequer os escutava, que dos seus lábios semi‑abertos e trêmulos rompia um sussurro de palavras inarticuladas, semelhante ao ciciar da aragem pelas ramas da selva. Os que lhe espreitavam os passos, nestes largos passeios da tarde, viam‑no chegar às raízes do Calpe, trepar aos precipícios, sumir‑se entre os rochedos e aparecer, por fim, lá ao longe, imóvel sobre algum píncaro requeimado pelos sóis do estio e puído pelas tempestades do inverno. Ao lusco‑fusco, as amplas pregas da estringe de Eurico, branquejando movediças à mercê do vento, eram o sinal de que ele estava lá; e, quando a lua subia às alturas do céu, esse alvejar de roupas trêmulas durava, quase sempre, até que o planeta da saudade se atufava nas águas do Estreito. Daí a poucas horas, os habitantes de Cartéia que se erguiam para os seus trabalhos rurais antes do alvorecer, olhando para o prebistério, viam, através dos vidros