por anos a realidade delas neste mundo, só encontrar aí hipocrisia, egoísmo e infâmia:
É o perceber à custa de amarguras que o existir é padecer, o pensar descrer, o experimentar desenganar‑se, e a esperança nas coisas da terra uma cruel mentira de nossos desejos, um fumo tênue que ondeia em horizonte aquém do qual está assentada a sepultura.
Este é o acordar do poeta. Depois disso, nos abismos da sua alma só há para mandar aos lábios um sorriso de desprezo em resposta às palavras mentidas dos que o cercam, ou uma voz de maldição desabridamente sincera para julgar as ações dos homens.
É então que para ele há unicamente uma vida real ‑ a intima; unicamente uma linguagem inteligível ‑ a do bramido do mar e do rugido dos ventos; unicamente uma convivência não travada de perfídia ‑ a da solidão.
Tal era eu quando me assentei sobre as fragas; e a minha alma via passar diante de si esta geração vaidosa e má, que se crê grande e forte, porque sem horror derrama em lutas civis o sangue de seus irmãos.
E o meu espírito atirava‑se para as trevas do passado.
E o sopro rijo do norte afagava‑me a fronte requeimada pela amargura, e a memória consolava‑me das dissoluções presentes com a aspiração suave do formoso e enérgico viver de outrora.
E o meu meditar era profundo, como o céu, que se arqueia imóvel sobre nossas cabeças; como o oceano, que, firmando‑se em pé no seu leito insondável, braceja pelas baías e enseadas, tentando esboroar e desfazer os continentes.
E eu pude, enfim, chorar.
Que fora a vida se nela não houvera lágrimas?
O Senhor estende o seu braço pesado de maldições sobre um povo criminoso; o pai que perdoara mil vezes