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escriptor americano. Mas essa approximação vem da historia, é fatal, e não resulta de uma imitação.

Si Chateaubriand e Cooper não houvessem existido, o romance americano havia de apparecer no Brasil á seu tempo.

Annos depois de escripto o Guarany, reli Cooper afim de verificar a observação dos criticos e convenci-me de que ella não passa de um rojão. Não ha no romance brasileiro um só personagem de cujo typo se encontre o molde nos Mohicanos, Espião, Outario, Sapadores e Leonel Lincoln.

No Guarany derrama-se o lirismo de uma imaginação moça, que tem como a primeira rama o vicio da exhuberancia; por toda a parte a limpha, pobre de seiva, brota em flor ou folha. Nas obras do iminente romancista americano, nota-se a singeleza e parcimonia do prosador, que se não deixa arrebatar pela fantazia, antes a castiga.

Cooper considera o indigena sob o ponto de vista social; e na descripção dos seus costumes foi realista; apresentou-o sob o aspecto vulgar.

No Guarany o selvagem é um ideal, que o escriptor intenta poetisar, despindo-o da crosta grosseira de que o envolveram os chronistas, e arrancando-o ao ridiculo que sobre elle projectam os restos embrutecidos da quasi extincta raça.

Mas Cooper descreve a natureza americana,