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DO POVO PORTUGUEZ
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29. A NOIVA FORMOSA

Era uma vez um rei que tinha tres filhos; um dia chamou-os e disse — que já estava velho, e que desejava entregar o reino a qualquer dos filhos, e porisso fossem procurar mulher, na certeza de que aquelle que a trouxesse mais formosa esse é que ficaria com o reinado. Partiram todos tres; os dois mais velhos voltaram passado pouco tempo casados, com duas bonitas raparigas, que não eram princezas. O mais novo correu muitas terras, sem achar mulher que lhe agradasse; um dia chegou a um lindo palacio no meio de um escampado, e resolveu-se a pernoitar ali. Appareceu-lhe então um velho, que o recebeu, e lhe deu um quarto muito rico, e o tratou muito bem. Ao outro dia o principe contou o motivo da sua jornada.

— Pois póde dar graças á sua ventura, porque não podia ir bater a melhor porta do que á minha — disse o velho. Tenho uma filha que é uma formosura, e com um bom genio, e rica.

O principe ficou logo contente, e pediu para vêr a noiva. O velho respondeu-lhe que não; se confiava na sua palavra só a poderia vêr no dia do casamento. O rapaz disse que sim, e d’ahi a pouco chegou o dia do noivado. Vieram muitas carruagens, muito acompanhamento, e o principe não conhecia ninguem. Por fim chegou a carruagem da noiva, e foram todos a recebel-a. Vinha coberta de pedrarias. O rapaz ficou pasmado por vel-a tão feia como uma macaca; mas emfim tinha dado a sua palavra, e curtiu comsigo o seu engano. Casou, e levou a mulher para a côrte de seu pae; não se fallava n’outra coisa senão na macaca. O rei desgostado com o filho, deu-lhe um palacio velho que tinha para elle ir para lá viver. O principe andava descontente mas tratava muito bem a mulher. Um dia o rei mandou avisar os fi-