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Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/136

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cador chegou a casa muito triste, porque não podia fazer uma casaca de pedra, e porque as duas filhas mais velhas estavam casadas e porque dois vasos estavam murchos. Quando ellas lhe perguntavam o que tinha, Maria saiu de traz das irmãs e disse:

— Se o rei lhe manda fazer uma casaca de pedra não se apoquente, meu pae; leve lá este giz para elle fazer as linhas.

Assim fez; o rei respondeu que era impossivel, e o mercador respondeu tambem:

— Em vista d’isso é-me impossivel fazer a casaca.

— Pois então hasde-me entregar a tua filha Maria.

O mercador voltou ainda mais triste para casa:

— Minha querida filha, o rei quer que te vá levar ao palacio. É a nossa desgraça.

— Não se afflija, meu pae; mande fazer uma boneca egual a mim com um cordão para se puxar pela cabeça para dizer sim e não; e a boneca terá muito mel pelo pescoço.

O rei disse aos pagens:

— Quando vier aqui um senhor com uma menina, em dizendo que querem fallar commigo, mettam a ella na minha camara, e deixem-no a elle ir-se embora.

Maria Subtil entrou e metteu-se debaixo da cama, com o cordão na mão, e pôz a boneca deitada. Quando entrou o rei, olhou para a boneca e disse:

— Senhora Maria Subtil, passe muito bem.

Maria puchou pelo cordão á boneca, e ella abaixou a cabeça. O rei lhe disse:

— Vamos ajustar contas.

E começou pelo principio, desde quando foi á adega até chegar ao açafate de flôres. E Maria Subtil sempre a puchar pelo cordão. O rei continuou:

— Quem me fez tanta falsidade merece a morte.

Pegou n’um espadim e degollou a boneca; o mel respingou, e foi-lhe tocar n’um beiço; e elle disse: