Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/45

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ligiões indo-europêas não apresentam nada que se pareça com o culto planetario. Jacob Grimm admirava-se de achar esta lacuna entre os Allemães; porém ella é commum aos seus irmãos. Os povos da Europa, pelo menos, não parece terem tido nomes para designar os planetas, etc.»[1] A differença de meio, reflectindo-se na differença dos costumes, repete-se na diversidade das religiões dos Arias e Semitas; portanto os seus mythos não tendo a mesma base de concepções, ao degenerarem na fórma de contos hãode apresentar não só o caracter dos elementos ethnicos primitivos (kuschitas e mongoloides) como a personificação dos phenomenos sideraes e metereologicos. Dissemos que os mythos semitas eram antropopathicos; no Egypto o curso solar era equiparado ao da existencia humana; Rã, o sol, passava da mansão da luz ou da vida, para a das trevas ou da morte, e n’esta successão representava diversas entidades divinas; na sua existencia nocturna era Tum, brilhando no meridiano era , e alimentando a vida, Khéper. Os deuses systematisados pelos sentimentos humanos foram divididos em masculinos ou representando a força activa e em femininos. Osíris, sol do hemispherio inferior, representava os destinos de uma existencia além da morte; e os phenomenos moraes do bem e do mal foram tambem personificados, como Typhon e Suttekh. Para os Chaldeus os astros foram representações de entidades divinas, que systematisaram por meio de hypostases em vastos systemas religiosos, de que os Syro-Phenicios apenas conservaram o lado sensual dos ritos e as suas fórmas concretas. O mytho principal em quasi todos os povos semitas, que desenvolveram o culto das divindades femininas, é o do Sol expirando e resuscitando rejuvenescido, como na paixão de Christo; pertencem a este grupo os mythos de Atys, da Phrygia, o mytho de Adonis dos Syro-Phenicios,

  1. Petit Poucet, p. 3 e 5.