voltar para casa, deu-lhe licença para viver no palacio em companhia do seu amigo. O principe pediu licença ao pae para casar com a menina que tinha salvado, porque ella era de sangue real; o pae disse que só dava licença ao fim de seis mezes depois de a conhecer melhor e vêr as suas qualidades. O certo é que o principe casou com ella, e perguntou ao filho do sapateiro o que é que queria de dom no dia do casamento. Elle disse que só queria uma cousa, e era dormir na noite do noivado no mesmo quarto. Lá lhe custou isto, mas o principe sempre consentiu. O amigo deitou-se á porta do quarto, com uma espada escondida, e quando os noivos estavam dormindo sentiu entrar pelo quarto dentro uma grande bicha de sete cabeças. Como elle já esperava isto, descarregou um golpe certeiro e matou o monstro, mas sempre uma gota de sangue espirrou e foi bater na cara da princeza que estava adormecida. O filho do sapateiro tratou de limpar o sangue que estava pelo chão, e como visse a gota de sangue na cara da princeza foi-lh’o limpar com a ponta de uma toalha molhada. A princeza acordou com aquella friagem, e gritou sobresaltada para o marido:
— Vinga-me do teu melhor amigo, que me deu um beijo.
O principe levanta-se furioso para matar o amigo que elle julgava traidor; mas elle pede-lhe que demore o seu rigor, para contar a toda a côrte o caso acontecido. Ajuntou-se toda a gente do palacio; o rapaz começou a relatar tudo, e ia-se tornando pouco a pouco em pedra marmore. Ficaram todos com muita pena de ser tão mal paga aquella fidelidade, e o principe resolveu collocar a estatua de marmore, que fôra o seu maior amigo, no jardim do palacio. O principe costumava levar os filhos a brincarem no jardim, e sentava-se ao pé da estatua chorando com pesar, e dizia:
— Quem me dera o meu amigo outra vez vivo.
— Pois se queres o teu amigo outra vez vivo (disse-