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cada joelho, acariciava-os de manso, amimava-os, cobrindo-os de beijos e de silenciosas lágrymas.

De tudo isto lembrava-se o desditoso Silverio, inerte no banco da avenida, as pernas entorpecidas pela demorada immobilidade. Ainda ha pouco, ao anoitecer, houvera em casa uma terrivel scena. Persuadira-se Luiza estar o marido auferindo grandes lucros n’uma industria inaugurada mezes antes, lucros que desviava ás occultas para a Europa. E deu para exigir-lhe «a sua parte no negocio». Sogro e sogra tinham acudido com argumentos e gritos: «De certo, é preciso pintar já para aqui os cobres!» E, desenvolvendo preceitos juridicos, explicava o velhote que «a não cohabitação material dos conjuges recolhidos sob o mesmo tecto não impedia a co-participação na pecunia». Dispensou-se de se desculpar, o Silverio; e, para não irem mais longe os brados, que estavam já a incommodar a vizinhança, tomou dissimuladamente