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o homem com respeito á lei do universo, somente a que em si sente póde ter uma tal ou qual consciencia; d’onde resulta que, ainda quando copía o mundo exterior, é o seu proprio sentimento que empresta ás coisas. Por isso o homem persiste em affirmar que os montes são tristes, que choram os mares, que riem as searas, que folgam as aves, e não quer ver que nem os montes são tristes, nem choram os mares, nem riem as searas, nem folgam as aves e que só elle é triste, chora, ri ou folga, porque só elle possue em toda a natureza a capacidade das alegrias supremas comparada com o dom das supremas angustias.

Da 2.ª parte — Objectivismo, commoveram-nos principalmente as duas narrativas Mater dolorosa e A filha do Pagé, a historia entristecedora de uma mãe que vê o filho engulido pelo gigante rio do Norte e a de um velho indio que chora a filha deshonrada. Estes dois contos confirmam-nos na crença de que é, quando menos, inutil para a arte a distincção entre subjectivismo e objectivismo. Se o auctor logra transmittir a quem o lê a emoção espontanea ou reflexa de que se acha possuido (e é o caso do sr. Marques de Carvalho), a obra é verdadeira; se não logra, a obra é falsa, porque, em todo caso, é sempre o objectivismo do leitor que julga em ultima instancia. — S. R.