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com uma pequena chamma de esperança rebrilhando ao fundo das pupillas irrequietas. Seria aquella a noite reservada para a satisfacção da primeira desforra? O coração dizia-lhes que sim.

De subito, no silencio relativo que se estabelecera entre um relampago e um trovão, pareceu a Antonio ouvir um grito longinquo, — som quasi imperceptivel, talvez phantasia do seu vehemente desejo.

— Não ouviste? perguntou baixinho, n’um offego.

O rapazito conservou-se calado, mas parecia prestar attenção.

— Ha de ser coruja, explicou ao cabo d’um instante.

Mas outro grito ouviu-se então, d’esta feita mais accentuado. Não havia duvida, alguém pedia soccorro.

— É obra! exclamou Antonio.

— Parêsque sim, disse o rapaz.

E, levantando-se, correram para fóra.