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CONTOS DOS IRMÃOS GRIMM

cinta uma faca e poz-se a afial-a com cuidado. Os dois companheiros já não estavam muito satisfeitos; quando tentavam fugir, o velho agarrou-os pelo pescoço com uma força extraordinaria, rapou-lhes a cabeça e a barba n'um abrir e fechar d'olhos, com uma ligeireza unica; depois largou-os, e, batendo-lhes no hombro, sorriu, querendo fazer-lhes perceber que estava satisfeito com elles, e que tindam feito bem de não se defenderem. Em seguida, mostrou-lhes com a mão um monte de carvão que estava de um lado, e deu-lhes a entender por meio de signaes, que, em recompensa da sua condescendencia, os autorisava a encher os bolsos. Foi o que fizeram, ignorando comtudo qual o proveito que d'isso poderiam tirar. Depois, o velho, disse-lhes adeus e elles sairam do circulo, tomaram pelo atalho e chegaram á estrada real. Voltaram ainda uma vez os olhos para contemplar os gentis baillarinos; n'esse momento soou meia-noite na igreja d'um mosteiro vizinho. Immediamente cessaram os cantos e toda aquella gente miuda desappareceu pela terra dentro.

Os dois viajantes acabaram por encontrar uma hospedaria; estavam tão cançados que deitaram-se vestidos sobre a palha que lhes deram para dormir. Accordaram pela manha muito cedo com a sensação de que eram puxados pelas abas do casaco, era simplesmente o peso enorme que tinham nos bolsos. Metteram as mãos. Qual não foi a agra-