tudo gente preoccupada dos interesses mais mesquinhos, das pequenas intrigas mais pueris, fallando, gesticulando, dançando, tocando, cantando, murmurando e constituindo a unica diversão das noites de Margarida.
Não sabemos de que traças usou a gentil lisboeta: sabemos que algumas noites depois d’esta, Eduardo de C. era apresentado por um fidalgote, aspirante e litterato, na sala do banqueiro.
Desde esse dia elle e Margarida formaram em commum uma especie de refugio contra a frivola banalidade d’aquellas noites.
Eduardo desenhava com muito chiste caricaturas e graciosos croquis, que Margarida guardava contentissima; ella cantava com a sua voz meiga e flexivel algumas simples melodias allemãs, ou tocava as musicas dos velhos mestres classicos, tão queridos de Eduardo.
Fallavam a respeito de tudo com a liberdade de pessoas que se entendem e apreciam.
Discutiam litteratura, musica e versos.
Ás vezes fallavam ambos do futuro.
— Que tem tenção de fazer? perguntava Margarida.
— Ora! Não sei bem. Com certeza hei de fazer alguma cousa. Ando a crear forças para a lucta. Ha de ser tenaz, ha de ser terrivel, bem sei, mas eu hei de vencer!