Bertha não percebeu o que aquellas palavras significavam, mas percebeu o ar com que foram ditas!
Nunca mais foi ao jardim! nunca mais viu a capoeira nem o viveiro dos canarios, nem os peixinhos vermelhos do tanque!
Tinha sempre frio, muito frio.
Tiritava horas e horas a um canto da casa de engommar onde as criadas riam e palestravam indifferentes, com uma expressão de espanto, de surpresa, de desolação selvagem no olhar!
Parecia-lhe a ella que tambem estava na vida como uma intrusa. O que viera ella cá fazer? Por que se não ia embora?
Sentia que alguem estava á espera d’ella, lá em cima, n’um sitio onde havia muito azul, muitas flôres, um jardim mais bonito que o que fôra d’ella, uns serões mais placidos e mais cheios de risos e de caricias que os amados serões de outro tempo... que não podiam voltar!
E abrindo os braços, fez um doce gesto de ave espavorida que vae levantar o vôo para o infinito!
— Ai! a menina que vae morrer! — bradou a criada com muita ancia. — Chamem a senhora,