Não são felizes, os dous, mas ella, a intrepida, a caridosa creatura, lá está tentando da abnegação de cada um d’elles fazer a felicidade de ambos.
Não o consegue, e quando a amiga, culpada e arrependida se mata para fugir ao horror de mentir eternamente a seu marido, só ella no mundo recebe a confidencia do seu crime, confidencia que n’uma carta repassada de dôr a douda creança lhe pede que transmitta ao esposo ultrajado.
Ficaram ambos livres em face um do outro, ambos viuvos, ambos tendo cumprido a missão que o destino lhe confiára.
Nada os desune agora, nada, a não ser uma duvida que punge o animo d’aquelle, que hoje ella ama perdidamente com a paixão concentrada de tantos annos de sacrificio.
— Porque foi que a minha mulher se matou? pergunta elle então. Ás vezes lembro-me que foi talvez o desamor que eu não soube occultar bastante. Se assim fôr, fugirei. Não quero gozar uma ventura de que não sou digno. Se eu matei uma innocente e casta creança, quem me dá direito a ser ainda feliz na terra?
Só ella o sabe, só d’ella depende aquella ventura divina, de que o dever e a caridade a fizeram fugir n’outro tempo.
Pois a ninguem revelou o segredo da sua amiga